Hiperestesia significa exaltação da sensação. Hiperestésico é quem capta e pode manifestar estímulos mínimos. As pessoas que manifestam com alguma frequência este fenômeno e por extensão outros fenômenos extranormais, são chamados “sensitivos”. Essa capacidade é mais evidente em certos animais, cuja sensibilidade nos deixa pasmados. Por exemplo, as borboletas macho da espécie Actias selene. As fêmeas dessa mariposa, como muitas espécies da família Saturniidae, emitem feromônios — substâncias químicas específicas — para atrair os machos. Os machos possuem antenas altamente sensíveis, em forma de penas, que são capazes de detectar esses feromônios mesmo estando a quilômetros de distância. Estudos sobre mariposas semelhantes sugerem que essa capacidade pode alcançar até 11 quilômetros.

Um cachorro de caça se guia por uma admirável hiperestesia do olfato sobre o mínimo cheiro de que fica impregnado o chão pisado há uma hora ou mais por uma lebre que passou. Mas haverá algo parecido com os humanos?
HIPERESTESIA EM PESSOAS NORMAIS
De algum modo, somos todos hiperestésicos, isto é, todos somos capazes de captar com os sentidos estímulos mínimos. Às vezes estes estímulos são tão pequenos que o consciente não tem como perceber, ficando a percepção hiperestésica apenas no inconsciente. O doutor Hereward Carrington descreveu uma experiência interessante a respeito de algumas dessas sensações:
Introduzida uma pessoa numa sala na qual nunca tenha estado, damos-lhe somente uns quatro ou cinco segundos para que observe tudo, o mais que puder. Após sair da sala, poderá dar conta de uns 10 ou 15 objetos. Mas se a hipnotizarmos em seguida para aproveitar as sensações que de fato teve e das quais não se deu conta conscientemente, observaremos que poderá enumerar, sob o efeito da hipnose que faz surgir certas sensações inconscientes, mais uns 40 ou 50 objetos que estavam na ala e dos quais só inconscientemente tivera conhecimento.

Outro tipo de sensações inconscientes (no caso, pré-conscientes) são aquelas que não percebemos por força da inibição e concentração, mas que poderíamos apreender em qualquer momento se assim o quiséssemos. Por exemplo, ao ler estas linhas só nos damos conta das ideias nelas expressas, ms ao mesmo tempo os nossos sentidos estavam sendo impressionados por barulhos que nos chegavam da rua, pelo contato do nosso corpo na cadeira, na mesa e no chão, pela umidade ambiental, pelo ritmo da respiração e trajeto do ar pelas vias respiratórias, pelo frio ou pelo calor que nos circundam. Destas sensações o consciente pode dar-se conta se assim o desejarmos, muito embora sejam tão pequenas que o consciente não as percebe habitualmente. Porém elas existem, e são o fundamento da percepção inconsciente chamada “mensagem subliminar”.
Em um filme, por exemplo, coloca-se a palavra “sangue”, e também a imagem de uma caveira, ambas de maneira tão rápida que torne impossível a percepção consciente. Quando o filme for visto, numa cena de terror, ninguém poderá dar-se conta nem da palavra nem da imagem, a ínfima sensação, porém, pode ser captada de maneira inconsciente e, surgindo à tona, a impressão tétrica do filme é, ou pode ser, acentuada.
Também o consciente pode chegar, pelo treino, por exemplo, a graus fantásticos de hiperestesia. Os marinheiros chegam a enxergar objetos a distâncias muito superiores às que atingem pessoas dedicadas a outras profissões. Os pintores chegam a distinguir matizes nas cores completamente indiferenciáveis para o homem comum. Certos selvagens possuem, pelo exercício, um ouvido que supera a sensibilidade do mais sensível microfone, e um olfato que lembra o dos cachorros de caça. Os cegos e os surdos-mudos, frequentemente apresentam algum sentido notavelmente hiperestésico, por serem obrigados a “atender” suas sensações, a fazer conscientes as sensações que em outra pessoas ficam inconscientes. Assim, muitos surdos-mudos podem chegar a entender a linguagem falada apenas pelo movimento dos lábios do interlocutor, e quanto isso seja difícil se compreenderá desligando o som da televisão enquanto se deixa ligada a imagem. É o exercício que lhes permitiu a manifestação da hiperestesia. Se o podem manifestar, sinal é de que a capacidade estava aí; o homem possui uma grande capacidade de sensação.
HIPERESTESIA NA HIPNOSE
Com hipnotizados especialmente sensitivos (assim são chamadas as pessoas que manifestam a hiperestesia), é mais fácil experimentar a que graus de hiperestesia pode chegar o homem em certas circunstâncias. Com efeito, a manifestação da acuidade dos sentidos chega a limites insuspeitados.
Não só com os olhos semifechados, mas inclusive com os olhos cerrados, alguns hipnotizados sentem os raios luminosos com tal nitidez que conseguem ver até objetos sumamente distantes, impossíveis de serem percebidos (conscientemente) por outra qualquer pessoa, em estado normal e com os olhos abertos.
A Academia de Ciências de Paris nomeou uma Comissão para o estudo de alguns fenômenos do então nascente “magnetismo” ou hipnotismo. A Comissão, científica e séria, após cinco anos de estudos, concluía na proposição 24:
“Vimos dois sonâmbulos distinguir, de olhos fechados, objetos colocados diante deles, designar a cor e o valor de cartas de baralho sem mexer nelas, ler palavras escritas à mão ou algumas linhas de livros que lhes eram abertos ao acaso. E estes fenômenos se davam mesmo quando, com os dedos, se lhes fechavam rigorosamente as pálpebras”.
Já Braid, para citar um exemplo dos pioneiros da hipnose, relata o caso de um paciente que não possuía bom ouvido, mas, sugestionado, percebia o que se lhe dizia em cochichos, estando de costas e a mais de cinco metros de distância. Quem normalmente não ouvia o tique-taque de um relógio senão à distância máxima de um metro, ouvia-o nitidamente, em hipnose, a dez metros de distância. Se na hipnose, pela força da sugestão, é possível manifestar tanta hiperestesia, é sinal de que a hiperestesia aí está, sinal de que os nossos sentidos, ao menos inconscientemente, são sumamente agudos.
A CHAMADA VISÃO PARA-ÓTICA
Os conhecimentos obtidos por hiperestesia podem ser tão nítidos que alguns autores chamaram a este fenômeno “visão para-ótica, hiperótica ou cutânea”.
Paul Jagot encontrou (melhor dito, encontraram seus discípulos e o levaram ao mestre) um sujeito que, hipnotizado, lia perfeitamente as horas num relógio colocado sobre a cabeça. Não se tratava de sinais inconscientemente dados pelos investigadores, pois estes trocavam os ponteiros do relógio por trás do sonâmbulo, e só o observavam depois do sonâmbulo ter dito a hora marcada.
O professor Lombroso encontrou uma histérica que, em ataques sonambúlicos de hipnotismo espontâneo, perdia completamente a visão pelos olhos, vendo, entretanto, quase com o mesmo grau de acuidade pelo lóbulo da orelha esquerda. Não só distinguia as cores, senão também os caracteres duma carta chegada havia pouco. Mas ainda, se o experimentador concentrasse, com uma lente, alguns raios de luz sobre o lóbulo da orelha esquerda, ressentia-se ela vivamente e gritava, sacudia e cobria com o braço a orelha como faria com os olhos se estes fossem feridos com uma luz intensa demais.
OUTROS TIPOS DE HIPERESTESIA
O que sucede com o sentido da visão, sucede também com os outros sentidos. Pététin, por exemplo, descreve uma sonâmbula hipnótica que reconhecia pelas pontas dos dedos o sabor de várias substâncias: biscoitos, carneiro assado, carne de vaca cozida, pão de leite… Estudou e descreveu casos de pessoas que não ouviam pelo ouvido mas sim quando se lhes sussurravam palavras nas pontas dos dedos ou no epigástrio.
Os fenômenos da hiperestesia durante o sonambulismo poder-nos-iam explicar certos casos de sonambulismo durante o sono natural. Regra geral, quando um sonâmbulo caminha com os olhos fechados por lugares conhecidos, é porque a memória inconsciente guarda com todos os detalhes as distâncias, obstáculos, etc. Mas em certos casos, os sonâmbulos caminham com os olhos fechados por lugares desconhecidos e obscuros ou por lugares conhecidos, mas evitando obstáculos novos. A explicação nestes casos não pode ser a memória, mas a hiperestesia. Muitos conhecimentos “extraordinários”, “inspirações”, “pressentimentos”, portanto, tem sua verdadeira razão na hiperestesia.
Fonte: Oscar G. Quevedo, A face oculta da mente