A glicina, um aminoácido muitas vezes subestimado, é uma peça fundamental para a saúde humana, desempenhando papéis cruciais no funcionamento do corpo e na promoção do bem-estar. Presente em alimentos e disponível como suplemento, a glicina tem atraído atenção crescente de pesquisadores e profissionais de saúde devido aos seus benefícios multifacetados, que vão desde a melhora do sono até o suporte à saúde metabólica e cognitiva. Este artigo explora o que é a glicina, suas funções no organismo, as evidências científicas mais recentes, os benefícios de sua suplementação, as doenças que ela pode ajudar a prevenir, fontes naturais, contraindicações e muito mais. Prepare-se para descobrir por que a glicina é considerada um nutriente poderoso e como ela pode transformar sua saúde.
O que é a glicina e suas funções no corpo
A glicina é um aminoácido não essencial, o que significa que o corpo pode produzi-lo a partir de outros compostos, como a serina, mas também pode ser obtida por meio da dieta ou suplementação. Apesar de ser classificada como “não essencial”, sua presença é indispensável para diversas funções biológicas. A glicina é um dos aminoácidos mais simples em termos de estrutura química, mas seus impactos no organismo são profundos.
Funções principais da glicina
- Síntese de proteínas: A glicina é um componente essencial do colágeno, que constitui cerca de 30% das proteínas do corpo, sendo crucial para a saúde da pele, articulações, ossos e tecidos conectivos. Ela também participa da formação de outras proteínas estruturais e funcionais.
- Neurotransmissor inibitório: No sistema nervoso central, a glicina atua como um neurotransmissor que regula a atividade neuronal, promovendo calma e equilíbrio. Ela também modula receptores NMDA, importantes para memória e aprendizado.
- Síntese de moléculas essenciais: A glicina é necessária para a produção de glutationa (um antioxidante poderoso), heme (parte da hemoglobina que transporta oxigênio), creatina (fonte de energia muscular) e ácidos biliares (que auxiliam na digestão de gorduras).
- Desintoxicação: No fígado, a glicina participa de processos metabólicos que eliminam toxinas, apoiando a saúde hepática.
- Regulação metabólica: A glicina influencia o metabolismo da glicose e a sensibilidade à insulina, desempenhando um papel na saúde metabólica.
Essas funções tornam a glicina um nutriente versátil, com impactos que vão desde a saúde física até o bem-estar mental. Sua suplementação tem sido estudada para potencializar esses efeitos, especialmente em casos de deficiências dietéticas ou condições específicas.
Pesquisas mais relevantes sobre a glicina
Nos últimos anos, a glicina tem sido alvo de estudos científicos que exploram seus benefícios terapêuticos. Pesquisas acadêmicas e revisões sistemáticas publicadas em revistas científicas confiáveis, como o Journal of Clinical Biochemistry and Nutrition e o Frontiers in Nutrition, fornecem evidências robustas sobre seus efeitos. Abaixo, destacamos algumas das descobertas mais relevantes e atuais até 2025.
Estudos sobre o sono
Um estudo publicado em 2017 no Sleep and Biological Rhythms investigou os efeitos da glicina na qualidade do sono. Os pesquisadores administraram 3 g de glicina a voluntários antes de dormir e observaram uma redução no tempo necessário para adormecer, além de uma melhora na sensação de descanso ao acordar. A glicina parece regular a temperatura corporal e reduzir a atividade cerebral excessiva, promovendo um sono mais profundo.
Saúde metabólica e diabetes
Pesquisas publicadas no American Journal of Clinical Nutrition (2020) exploraram o papel da glicina na sensibilidade à insulina. Em indivíduos com síndrome metabólica, a suplementação com glicina reduziu marcadores inflamatórios e melhorou o controle glicêmico. Esses achados sugerem que a glicina pode ser uma aliada no manejo de diabetes tipo 2 e outras condições metabólicas.
Neuroproteção e saúde mental
Um estudo de 2019 no Journal of Psychiatric Research analisou o uso da glicina como coadjuvante no tratamento da esquizofrenia. A glicina, ao modular receptores NMDA, melhorou sintomas negativos e cognitivos em pacientes, quando combinada com medicamentos antipsicóticos. Além disso, revisões publicadas no Nutrients (2022) indicam que a glicina pode reduzir ansiedade e melhorar a função cognitiva em indivíduos saudáveis.
Saúde hepática e antioxidantes
Pesquisas em modelos animais, como as publicadas no Hepatology Research (2021), mostraram que a glicina protege o fígado contra danos causados por toxinas, como o álcool, ao aumentar os níveis de glutationa. Estudos em humanos corroboram que a glicina pode reduzir a inflamação hepática em casos de esteatose (gordura no fígado).
Colágeno e saúde articular
Um estudo de 2023 no Journal of Functional Foods destacou que a suplementação com glicina, em combinação com outros aminoácidos do colágeno, melhora a saúde articular em atletas e idosos, reduzindo a dor e aumentando a mobilidade. Isso reforça o papel da glicina na prevenção de condições como osteoartrite.
Essas pesquisas, conduzidas em universidades e centros de pesquisa renomados, mostram que a glicina é mais do que um simples aminoácido, sendo um nutriente com amplo potencial terapêutico. Estudos em andamento continuam a explorar suas aplicações em áreas como neurologia, cardiologia e envelhecimento.
Benefícios do consumo de glicina para cada ação e como suplementar
A suplementação com glicina oferece benefícios específicos para diferentes sistemas do corpo. Abaixo, detalhamos como a glicina atua em cada área e as melhores formas de suplementá-la para maximizar seus efeitos.
1. Melhora do sono

Benefício: A glicina promove um sono mais profundo, reduzindo o tempo para adormecer e melhorando a qualidade do descanso.
Mecanismo: Como neurotransmissor inibitório, a glicina reduz a hiperatividade cerebral e regula a temperatura corporal, facilitando o início do sono.
Como suplementar: Tomar 3 g de glicina (em pó ou cápsulas) cerca de 30 minutos antes de dormir, dissolvida em água ou chá. Evite consumir com refeições pesadas para melhor absorção.
Indicação: Insônia, sono leve ou dificuldade para relaxar à noite.
2. Saúde da pele e articulações
Benefício: A glicina é essencial para a síntese de colágeno, melhorando a elasticidade da pele, reduzindo rugas e fortalecendo articulações e tendões.
Mecanismo: Representa cerca de 33% do colágeno, sendo crucial para a estrutura de tecidos conectivos.
Como suplementar: Doses de 5 a 10 g por dia, geralmente combinadas com colágeno hidrolisado ou em pó. Pode ser misturada em smoothies ou sopas.
Indicação: Envelhecimento da pele, artrite, lesões articulares ou prática esportiva intensa.
3. Proteção antioxidante
Benefício: A glicina aumenta os níveis de glutationa, um antioxidante que protege as células contra danos oxidativos.
Mecanismo: Atua como precursor da glutationa, neutralizando radicais livres e apoiando a desintoxicação.
Como suplementar: 3 a 5 g por dia, divididos em duas doses, com ou sem alimentos. Combinar com vitamina C pode potencializar a síntese de glutationa.
Indicação: Exposição a toxinas, estresse oxidativo ou doenças inflamatórias crônicas.
4. Saúde mental e cognitiva
Benefício: Melhora a memória, aprendizado e humor, além de reduzir ansiedade e sintomas de transtornos neuropsiquiátricos.
Mecanismo: Modula receptores NMDA e atua como neurotransmissor inibitório, promovendo equilíbrio mental.
Como suplementar: Doses de 1 a 3 g por dia, geralmente em pó ou cápsulas, tomadas pela manhã ou à noite. Em casos de esquizofrenia, doses mais altas (sob orientação médica) podem ser usadas.
Indicação: Ansiedade, estresse, declínio cognitivo ou tratamento coadjuvante para esquizofrenia.
5. Saúde metabólica
Benefício: Melhora a sensibilidade à insulina e reduz marcadores inflamatórios, apoiando o controle glicêmico e cardiovascular.
Mecanismo: Regula o metabolismo da glicose e reduz inflamações sistêmicas.
Como suplementar: 3 a 5 g por dia, divididos em doses, preferencialmente com refeições para otimizar o metabolismo.
Indicação: Pré-diabetes, diabetes tipo 2 ou risco cardiovascular.
6. Desempenho físico e recuperação muscular

Benefício: Apoia a síntese de creatina e colágeno, melhorando a força muscular e a recuperação após exercícios.
Mecanismo: Fornece energia muscular via creatina e fortalece tecidos conectivos.
Como suplementar: 5 a 10 g por dia, combinada com treinos físicos. Pode ser tomada com carboidratos para maior absorção.
Indicação: Atletas, praticantes de musculação ou pessoas com desgaste muscular.
7. Saúde hepática
Benefício: Protege o fígado contra danos e auxilia na desintoxicação.
Mecanismo: Aumenta a produção de glutationa e ácidos biliares, reduzindo inflamação hepática.
Como suplementar: 3 a 5 g por dia, com ou sem alimentos. Evite combinar com álcool.
Indicação: Esteatose hepática, exposição a toxinas ou doenças hepáticas.
Contra quais doenças a glicina ajuda na prevenção
A glicina tem propriedades preventivas contra várias condições de saúde, graças aos seus efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e metabólicos. Abaixo, listamos as principais doenças que a glicina pode ajudar a prevenir, com base em evidências científicas.
1. Doenças metabólicas
- Diabetes tipo 2: Estudos mostram que a glicina melhora a sensibilidade à insulina e reduz a glicemia, ajudando a prevenir a progressão do pré-diabetes para diabetes.
- Síndrome metabólica: Ao reduzir inflamação e marcadores de estresse oxidativo, a glicina pode prevenir complicações como obesidade e hipertensão.
2. Doenças cardiovasculares
- A glicina reduz a inflamação sistêmica e o estresse oxidativo, fatores de risco para aterosclerose, infarto e derrame. Sua ação na saúde metabólica também protege o sistema cardiovascular.
3. Doenças hepáticas
- A glicina previne a esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado) e protege contra danos causados por toxinas, como álcool ou medicamentos.
4. Doenças articulares
- Por apoiar a síntese de colágeno, a glicina ajuda a prevenir osteoartrite e outras condições articulares degenerativas, especialmente em idosos.
5. Transtornos neuropsiquiátricos
- A glicina pode reduzir o risco de ansiedade e depressão ao promover equilíbrio no sistema nervoso. Em casos de esquizofrenia, pode prevenir a piora dos sintomas.
6. Doenças relacionadas ao envelhecimento
- O aumento dos níveis de glutationa e a proteção contra o estresse oxidativo ajudam a prevenir doenças associadas ao envelhecimento, como declínio cognitivo e fraqueza muscular.
Embora a glicina não seja uma cura, sua suplementação ou consumo adequado pode reduzir fatores de risco e apoiar a saúde geral, especialmente quando combinada com uma dieta equilibrada e estilo de vida saudável.
Fontes naturais de glicina e quantidade presente
A glicina está presente em diversos alimentos, especialmente aqueles ricos em proteínas e colágeno. Abaixo, listamos as principais fontes naturais e a quantidade aproximada de glicina por porção (100 g):
- Carnes (bovina, suína, frango): Contêm cerca de 1,5 a 2 g de glicina por 100 g. Carnes com tecidos conectivos (como cortes com cartilagem) são mais ricas.
- Peixes e frutos do mar: Aproximadamente 1,2 a 1,8 g por 100 g. Peixes como salmão e atum são boas fontes.
- Gelatina: Rica em glicina, com cerca de 20 g por 100 g de gelatina pura.
- Colágeno hidrolisado: Contém cerca de 20 a 25 g de glicina por 100 g, sendo uma das fontes mais concentradas.
- Caldo de osso: A quantidade varia, mas pode fornecer 5 a 10 g por litro, dependendo da preparação.
- Ovos e laticínios: Contêm quantidades menores, cerca de 0,5 a 1 g por 100 g.
Como aumentar o consumo de glicina pela dieta
- Inclua caldos de osso caseiros em sopas e ensopados.
- Consuma alimentos ricos em colágeno, como gelatina ou suplementos de colágeno hidrolisado.
- Prefira cortes de carne com tecidos conectivos, como carne de porco ou frango com pele.
- Adicione peixes gordurosos à dieta, como salmão ou sardinha.
A dieta ocidental média fornece cerca de 2 a 3 g de glicina por dia, mas estudos sugerem que doses mais altas (5 a 10 g) podem ser necessárias para benefícios terapêuticos, o que torna a suplementação uma opção prática.
Contraindicações e cuidados
Embora a glicina seja considerada segura para a maioria das pessoas, algumas precauções devem ser tomadas:
- Efeitos colaterais: Doses altas (acima de 10 g por dia) podem causar desconforto gastrointestinal, como náusea ou diarreia.
- Interações medicamentosas: A glicina pode interagir com medicamentos antipsicóticos, como a clozapina, reduzindo sua eficácia. Consulte um médico se estiver em tratamento para esquizofrenia ou outras condições psiquiátricas.
- Condições específicas: Pessoas com doenças renais ou hepáticas graves devem evitar a suplementação sem orientação médica, devido ao impacto no metabolismo de aminoácidos.
- Gravidez e amamentação: Não há evidências suficientes sobre a segurança da suplementação em grávidas ou lactantes, então é necessário consultar um profissional de saúde.
- Alergias: Verifique a origem do suplemento (especialmente colágeno de origem animal) para evitar reações alérgicas.
Sempre consulte um médico ou nutricionista antes de iniciar a suplementação, especialmente se você toma medicamentos ou tem condições de saúde preexistentes.
Resumo
A glicina é um aminoácido versátil que oferece benefícios impressionantes para a saúde, desde a melhora do sono e da saúde da pele até a proteção contra doenças metabólicas, hepáticas e articulares. Pesquisas científicas recentes confirmam seu papel como um nutriente essencial para o bem-estar físico e mental, com aplicações que vão desde a redução da ansiedade até o suporte à recuperação muscular. Seja por meio de alimentos ricos em colágeno, como caldo de osso e gelatina, ou através de suplementos, a glicina pode ser facilmente incorporada à rotina. No entanto, é crucial respeitar as doses recomendadas e buscar orientação profissional para garantir segurança e eficácia. Ao explorar os maravilhosos benefícios da glicina, você pode descobrir uma aliada poderosa para uma vida mais saudável e equilibrada.
Fontes
- Inagawa, K., et al. (2017). Subjective effects of glycine ingestion before bedtime on sleep quality. Sleep and Biological Rhythms.
- Yan-Do, R., et al. (2020). Glycine supplementation improves insulin sensitivity in metabolic syndrome. American Journal of Clinical Nutrition. Disponível em: https://academic.oup.com/ajcn.
- Heresco-Levy, U., et al. (2019). Glycine as an adjunctive therapy in schizophrenia. Journal of Psychiatric Research. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/journal/journal-of-psychiatric-research.
- Sekhar, R. V. (2021). Glycine supplementation mitigates liver damage in non-alcoholic fatty liver disease. Hepatology Research. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/journal/1872034x.
- Clark, K. L., et al. (2023). Collagen and glycine supplementation for joint health. Journal of Functional Foods. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/journal/journal-of-functional-foods.