Desde o instante em que acordamos até o momento em que caímos no sono, nossa mente produz um fluxo incessante de pensamentos. Mesmo enquanto dormimos, ela organiza, arquiva e analisa tudo o que cruzou nosso caminho durante o dia. A maior parte desses pensamentos gira em torno de nós mesmos e do que nos afeta – e, infelizmente, muitos deles são improdutivos ou negativos. Esses pensamentos se repetem, dia após dia, até se solidificarem em crenças sobre o que é possível ou impossível, sobre quem somos e quem podemos – ou provavelmente não vamos – nos tornar. Esse estado mental bagunçado e pessimista causa um dano silencioso: ele sufoca o espaço necessário para sonhar grande, para imaginar possibilidades. É o que chamamos de Mente de Macaco.
Quando damos ouvidos às dúvidas e aos medos, abrimos as portas para um falatório interno sem fim e uma análise exagerada. Analisar é essencial para aprender e crescer, mas vira um obstáculo quando não conseguimos silenciar o diálogo interno, especialmente em momentos de atuação. Vivemos demais na cabeça, perdendo a força que surge quando nos conectamos ao nosso ser por inteiro – da cabeça aos pés, do coração à alma. Somos seres espirituais, mentais e físicos, mas com frequência nos deixamos guiar por uma mente entulhada de pensamentos inúteis, ignorando a intuição que floresce numa consciência mais alinhada ao espírito.
Com milhares de pensamentos cruzando nossa mente diariamente, raramente paramos para notá-los. São tantos que se tornam invisíveis, parte de quem somos. Mas subestimar o impacto colossal de cada um deles é um erro grave.
Charlie Maher, treinador de habilidades mentais do Cleveland Indians, alerta que a falta de consciência sobre nossos pensamentos é o maior entrave que enfrentamos: “O principal problema é a incapacidade dos atletas de perceberem quando estão presos a pensamentos improdutivos ou formas destrutivas de interpretar a situação em que estão. Isso se traduz em ‘E se isso acontecer?’, ‘E se aquilo der errado?’, ‘Não estou indo bem agora’. Em termos técnicos, é o que chamamos de fusão com a linguagem. Eles deixam as palavras ganharem vida própria.”
Maher explica como isso afeta jogadores profissionais de beisebol: “Essa fusão com a linguagem é pensar algo e transformar isso em realidade: ‘E se acontecer?’ ou ‘Não sei se consigo terminar esta entrada’. Eles constroem uma narrativa – quando a realidade concreta é apenas um rebatedor, um catcher e, talvez, homens nas bases. O resultado? Perdem o foco, a calma e ficam tensos.”
Todos nós criamos histórias sobre quem somos, distorcidas por negativismo, muitas vezes sem nem perceber. Não importa quais sejam nossos talentos de verdade se essas histórias forem carregadas de pensamentos inúteis e desordenados.
Jim Murphy, Inner Excellence
FONTES
- SHANNON, Jennifer. Não alimente a mente de macaco: como interromper o ciclo de ansiedade, medo e preocupação. Tradução de Maria Cristina Guimarães. São Paulo: Universo dos Livros, 2018.
- SMITH, Daniel. Monkey mind: a memoir of anxiety. Nova York: Simon & Schuster, 2012.
- KABAT-ZINN, Jon. Mindfulness para iniciantes: reconectando-se com o momento presente. Tradução de Maria Silvia Mourão Netto. Porto Alegre: L&PM, 2017.
- ESBERGER-CHOWDHURY, Martina. Calm the monkey mind: a practical guide to mindfulness and meditation. Nova Delhi: Penguin Random House India, 2024.